O programa de Eddy

Ignoro se Sam Was Here tem data de estreia ou até se chegará a exibir-se nas salas de cinema ibéricas. Mas vai ter uma recepção discreta quase de certeza. Uma lástima, porque o filme debute de Christophe Deroo merece um bocado da nossa atenção.
A frialdade com a qual foi acolhido pelo reduzido público que até agora assistiu, contrasta com méritos sobrados e com o sufocante calor que desprende a fita. É que Sam Was Here inscreve-se nesse conjunto de filmes de terror diurnos, solares. Contorna a nocturnidade de modo corajoso, como The Texas Chainsaw Massacre, Quién Puede Matar a un Niño? ou Wolf Creek. E isso sem recorrer à crueza das anteriores: a narração aproxima-se do Lynch mais figurativo.

E os principais argumentos são o tom e a atmosfera misteriosa que envolvem a totalidade da história do desventurado Sam (um bom Rusty Joiner). Este agente comercial perdido em Mojave procura clientes em vão entre as poucas moradias espalhadas no deserto. Toda a área parece inabitada, incluído o motel de estrada onde se hospeda. Os intentos de contactar via telefônica com a sua mulher são frustrados. As únicas companhias que tem no seu particular isolamento são uma estranha luz vermelha no céu e um programa de rádio conduzido pelo esquisito e populista Eddy, quem incita os ouvintes a exprimir os piores desejos para um assassino de crianças que atemoriza a comarca. As coisas começam a piorar seriamente quando Sam recebe várias mensagens ameaçantes no pager e descobre que em realidade não está sozinho no deserto, senão que está a ser evitado pela vizinhança.Como pode ser ruim com esta premissa? Pois há quem não goste. Não é em absoluto o meu caso. O desenlace vem-se chegar desde longe? Concordo. Propõe demasiadas questões que depois não resolve? Ok. Mas acaso o ar de suspense, a perseguição angustiosa ou a interpretação de Joiner sobre os ombros do qual descansa todo o anterior… não contam? E já nem falar do largo intervalo de possíveis leituras que oferece e que vão do puramente existencial, até uma reflexão mais ou menos clara sobre o poder da mídia. Não é o melhor filme de 2016, mas paga a pena assistir.

  • O melhor: O suspense da história e a interpretação principal.
  • O pior: Um final previsível e não demasiado acertado.

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