O que foi de Liv Tyler?

Discretas aparições em segundo plano: aqui há centos.

Foi uma espera de 8 anos para os fãs; mas finalmente, o 1 de Junho será estreada no Estado Espanhol a sequência de The Strangers.
Na altura, o terror minimalista de Bryan Bertino fora acolhido de maneira entusiasta por bastante gente (não é o meu caso). Narrava-se como um casal em plena crise (Liv Tyler e Scott Speedman) era assediado sem motivo aparente por três psicopatas mascarados. Os apologistas do filme destacam esta história de invasão doméstica como um exponente do terror posterior ao 11 de Setembro; onde a ameaça não emerge da violação dalguma norma social ou da recriação dum passado lutuoso, senão do puro acaso: as vítimas são seres inocentes que se acham simplesmente no lugar e momento errados. Bertino consegue gerar uma atmosfera claustrofóbica que remete vagamente a filmes como Funny Games ou Halloween, sem que essa banda de maníacos cheguem a ter nunca o charme de Michael Myers, ou de Paul e Peter.

Se esta psicopata chega a comportar-se de modo racional, o filme dura a metade.

Depois de vários problemas com a produção, assumirá a realização da sequência longamente aguardada Johannes Roberts; sobre quem já falamos aqui com motivo do seu 47 Meters Down. E não falamos bem, de facto. Bertino, nesta ocasião, intervém no guião junto de Ben Ketai; e tampouco é que se possa falar positivamente dele. Na primeira das duas partes claramente diferenciadas de The Strangers: Prey at Night, encontramos uma história mais ou menos fiel ao conceito original: uma família que mantém umas relações afectivas seriamente deterioradas, toma a má decisão de passar um fim de semana num parque de caravanas. Os progenitores (Martin Henderson e Christina Hendricks) intentam recuperar a paixão ignorando os problemas financeiros e a briga quotidiana com os seus filhos millennials. De facto, o motivo da excursão é passar algo de tempo juntos, antes de enviar a rebelde cadeta (Bailee Madison) para um internado, devido a um incidente impreciso que nunca se esclarece. Uma vez chegam ali, tudo acontece como no primeiro filme: a aparição duma miúda misteriosa a perguntar por “Tamara” (quem demónios é?), os assaltantes a fazer discretas aparições em segundo plano, as típicas tretas ardilosas, pintadas com sangue nas janelas, emojis sorridentes nas caixas do correio… E nada funciona como no filme original. Mas não é esta redundância o que estraga a sequência. Nem sequer as interpretações caricatas, o guião irregular ou o escasso impacto das cenas de acção. O que chateia até a irritação são os truques traiçoeiros do género: as aparições súbitas, os incrementos repentinos do volume, os “separemos-nos”, os “Fica aqui que já volto”… Esta suspensão da racionalidade (válida também para os antagonistas) desafia a paciência de qualquer um.

Desde a sequência da piscina, a coisa melhora um pouco.

Contudo, na segunda metade, The Strangers: Prey at Night quase consegue a redenção tomando um caminho próprio, menos solene ou sério que o filme original. E o principal argumento desse desvio é a homenagem consciente a clássicos do terror como The Texas Chainsaw Massacre, Halloween ou Christine. É significativa a inspiração em John Carpenter: widescreen, foco amplo, steadycam, iluminação minimalista, melodias sintetizadas… Tudo é coroado por uma trilha sonora de ar retro (com Bonnie Tyler!) e com um abuso do zoom lento que não parece ter outro propósito narrativo que o da simples homenagem. E a mudança não é apenas estilística. A história, já no terreno do disparate indissimulável, colhe ritmo e interesse; com uns millenials que não podem contar já com a protecção ou guia das gerações precedentes, numa luta sem misericórdia contra o trio de assassinos. Estes minutos não fazem o filme bom, mas conseguem entreter.

Não, não é “Christine”; é uma das homenagens com as que se explora a saudade do público.

Apesar de que não deixa demasiado espaço para sequências, The Strangers: Prey at Night ainda oferece um epílogo bastante tosco e desnecessário onde parece dizer «Oiçam, ainda podem fazer um terceiro filme». Não, melhor não.

  • A favor: A batalha na piscina. E um pouco, a briga final.
  • Em contra: Guião e interpretações.

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