Festival de chapadas

Nasce um actor marcial.

Brawl in Cell Block 99 é para ficar com a mandíbula desencaixada por esse truque que tão bem demonstra fazer o escritor, guionista e realizador S. Craig Zahler.
O truque é essa manha que tem para transitar desde uma boa obra de arte legítima, cara a um melhor cinema de exploração. Na sua anterior longa-metragem, Bone Tomahawk, iniciava um western naturalista de qualidade, com personagens complexos e caracteres antagónicos; para acabar com um filme de terror canibal. Um resultado mais do que aceitável no que se exaltam os méritos interpretativos dum já veterano Kurt Russell. Nesta ocasião, Vince Vaughn reivindica-se como um actor versátil, quem passa de modo solvente dum melancólico drama de tons azulados, a uma frenética fita de acção vermelho sangue transbordante de ossos quebrados. A mudança gradual deixa o espectador progressivamente envolvido na história, num estado de agradável e satisfatória confusão.

Sem saber como, passamos dum drama a uma frenética história de acção.

O thriller dramático introduz a Vaughn no papel de Bradley Thomas, um homem de classe trabalhadora e passado violento que se enfrenta à escassez económica e à crise do seu matrimónio com Lauren (Jennifer Carpenter). Despedido do emprego e com vontade de resolver as coisas com a mulher, aceita desesperado a proposta dum mafioso para o que trabalhara anteriormente. A sua situação financeira e matrimonial melhoram de modo substancial, e mesmo espera um filho com a sua esposa. Mas o pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita.

Don Johnson a fazer de carcereiro nazi.

As coisas acabam certamente mal: Bradley é preso pela ineptitude dos sócios do seu chefe. Estes, enfadados pela perda de dinheiro, sequestram a uma Lauren grávida. O nosso protagonista terá que provocar o seu traslado a uma prisão de máxima segurança, onde não existem os direitos civis e aonde deverá assassinar um recluso específico se quiser ver a sua mulher e o seu filho com vida. E aqui começa a loucura: Bradley, quem até então mostrava contenção e bom senso, dá rédea larga ao seu talento como lutador e empreende um extraordinário festival de chapadas que faz saltar do assento a plateia entre gritos e aplausos.

Vincent Vaughn a mostran quem é quem manda.

Acolhida de maneira entusiasta em Sitges, Brawl in Cell Block 99 é um filme divertido e apaixonante, onde também destaca a aparição de Don Johnson como malvado carcereiro ou do veterano Udo Kier como sinistro assassino. No aspecto negativo, talvez se poderia destacar a progressiva perda de preocupação pela coerência argumental mas… que diabo! E o bem que o passamos?

  • A favor: como se acelera.
  • Em contra: chega uma altura em que o filme abandona toda pretensão de coerência.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*