Este cadáver já fede

Certamente, os personagens parecem mais loucos que nós por ver semelhante bosta.

Depois de manquejar embaraçosamente durante seis entregas a seguir do filme original, o Cara-de-coiro chegava ao oitavo e último capítulo duma saga que se manteve viva pela filosofia de ordenhar até a última pinga a vaca que apresentara Tobe Hooper lá, em 1974.
E havia algum motivo para a esperança na redenção. Em primeiro lugar, foi atribuída a realização a Alexandre Bustillo e Julien Maury; enfants terribles dessa marca chamada “novo extremismo francês”. Na realidade, os realizadores galos já demonstraram que são capazes de tudo: desde um chocante À l’intérieur, a um convencional Aux yeux des vivants, passando por um afectado e insofrível Livide. Contudo, poderia esperar-se algum ponto de originalidade europeia no contexto duma autêntica falta de imaginação norte-americana na produção abusiva de sequências. Algum compatriota seu, como é o caso de Alexandre Aja, já intentou retomar algum clássico do terror estado-unidense com notável sucesso. De facto, acho que não exagero em valorizar o The Hills Have Eyes de 2006, como superior ao de Wes Craven de 1977.

Stephen Dorff num buraco da sua carreira.

Aliás, o projecto iria tomar o ponto de partida duma pré-sequência. Os gauleses poderiam empreender uma viagem à origem do mal por interessantes caminhos já insinuados na velha The Texas Chainsaw Massacre. Por isso, é inevitável sentir uma funda decepção quando o atacante recebe um passe ao pé, diante da baliza vazia, e erra de modo estrepitoso o tiro. A crise social e económica que segue ao feche do matadoiro, à qual se refere o louco ao que dão boleia no filme original; é totalmente ignorada. Também não se exploram a vandalização dos cemitérios, as “coisas” que vêm os bêbedos locais ou o elemento “transgénero” que subjaz no personagem de Leatherface; quem dá nome a este filme. De facto, nem há viagem à origem do mal. Chegam 30 segundos de metragem para comprovar como a família Sawyer são uns degenerados sem causa e sem remédio. Então, era assim necessária esta pré-sequência? Absolutamente não.

Pequenos barulhos ocasionais que não resolvem nada.

A disfuncional família Sawyer provoca uma série de mortes mais ou menos aleatórias e sem sentido que, em aparência, não têm mais consequência legal que o internamento do benjamim num hospital psiquiátrico. Como é de esperar, o jovem pré-Leatherface escapa a modo de refém duns Bonnie & Clyde de saldo; numa sequência rodada com total falta de interesse. Para além do benjamim Sawyer, o casal de criminosos levam consigo outros dois reféns, entre as que se acha uma das trabalhadoras sanitárias do hospital. Perseguidos pelo agente traumatizado e pára-fascista Hal Hartman (Stephen Dorff), a chata fugida desta singular comitiva acorda uma potente sonolência, apenas interrompida por um par de cenas que não têm outro propósito que o de dar arrepios; mais de nojo que de medo.

Bah, que morram todos.

E sim, plot twist que surpreende porque não se vê vir, mas que fica muito longe de ser suficiente para aproximar-se a um simples “aprovado”. Uma das grandes decepções do ano que acaba.

  • A favor: A família Sawyer parece verdadeiramente demente.
  • Em contra: Fundamentalmente o guião, mas não só.

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