Ante-ontem começou um dos festivais mais emblemáticos do cinema fantástico e de terror: o Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha, na vila costeira de Sitges.
Numa privilegiada localização na comarca do Garraf, Sitges acolherá a projecção de perto de 200 filmes repartidos em 11 secções e 4 espaços. Destaca o amplo auditório do Hotel Meliá, ou as salas históricas de El Retiro ou Prado.
Esta edição dedicada à figura de Drácula, dificilmente poderá competir em terror com a polícia espanhola, que leva um mês posicionada no porto de Barcelona, a 35 km de ali; a intentar impedir violentamente o processo de independência da Catalunha. De facto, vários dos vultos convidados ao evento, posicionaram-se já sobre o assunto. É o caso do realizador William Friedkin, quem disse que os norte-americanos tiveram a sua revolução «e também não foi legal». A actriz Susan Sarandon disse acreditar na autodeterminação e sublinhou o inútil da violência contra gente que se manifesta de modo pacífico.
No estritamente cinematográfico, já se puderam assistir alguns filmes, destacando The Shape of Water, de Guillermo del Toro. Parece que também teve uma boa acolhida o paranóico The Endless. ou uma original revisão do slasher em The Tragedy Girls. Também algumas primeiras decepções, como Science Fiction Volume One: The Osiris Child ou a local The Supers.
Não serão as únicas. Aqui falamos, não demasiado bem, de filmes como The Bad Batch ou Hounds of Love. Poderá-se acrescentar Leatherface, The Jackals, Boys in the Trees, a absurda Dave Made a Maze ou a insuportável Bushwick. No aspecto positivo está o faroeste holandês Brimstone, bastante recomendável; ou o thriller australiano Killing Ground. Como expectativa pessoal, sinto uma grande curiosidade pela nova produção dos belgas Hélène Cattet e Bruno Forzani, Laissez bronzer les cadavres!
A nossa língua estará também presente no festival. Na secção oficial temos Dhogs, filme galego debute do seu responsável Andrés Goteira; quem dirige um thriller de histórias cruzadas protagonizadas por um elenco mais acostumado à comédia da televisão autonómica. Também está na disputa pelo prémio ao melhor filme do festival As Boas Maneiras, de Marco Dutra e Juliana Rojas; quem já nos ofertaram há uns anos um sinistro e subvalorizado Trabalhar Cansa e que, nesta ocasião, mostram uma história de licantropia.
As possessões demoníacas serão o elemento central de Mal Nosso, também brasileiro, filme que competirá na secção Panorama; a qual valoriza a produção independente. Na secção Brigadoom exibir-se-a o documentário de João Monteiro Nos Interstícios da Realidade ou o Cinema de António de Macedo, sobre este realizador português exponente do Novo Cinema; de quem se projectarão como retrospectiva A Maldição de Marialva, A Promessa, Domingo à Tarde e O Segredo das Pedras Vivas.