Há certos paradoxos que chegam a resultar cómicos: segundo o portal Rotten Tomatoes, o consenso da crítica sobre Life (2017), o novo filme do sueco Daniel Espinosa, diz que é «emocionante, bem interpretado e rodado de modo competente». Contudo, recebe uma acolhida fria. Apenas um 67% de aprovação da crítica e um 61 do público. Por ilustrar o assunto com o mesmo portal: esse despropósito conhecido como Prometheus (2012) obtém 72 e 68%, respetivamente.
O que faz insuficientes as qualidades mencionadas de Life? O “consenso crítico” destaca a falta de originalidade, o não «acrescentar viragens inesperadas no género de “presos no espaço”». E que mais tem isso? Que percentagem de filmes produzidos num ano têm ideias inovadoras? O simples visionado do trailer não engana. Life deve muitíssimo a Alien (1979), mas é que Alien é um bom filme para inspirar-se. De fato, o filme de Espinosa é melhor do que a maioria das sequelas de aquele, com exceção da segunda. E a sinopse demonstra que com o mínimo, com o mais simples, podem fazer-se coisas muito interessantes.O filme já seduz desde o seu incidentado início, quando os seis tripulantes de uma estação espacial internacional devem capturar uma sonda desviada do seu rumo. O engenho contém mostras do planeta Marte que poderiam provar a existência de vida lá.
Cada um dos membros da tripulação têm as suas singularidades, as suas manias e até os seus motivos para esta viagem fora da órbita terrestre. É o caso do cientista britânico Hugh Derry (Ariyon Bakare), quem chega a sugerir que o seu interesse pelo organismo vivo descoberto na sonda residiria nas possíveis aplicações médicas; as quais, eventualmente poderiam curar a sua deficiência. E é assim que Hugh se expõe perigosamente a Calvin, como é batizada essa espécie de medusa extraterrestre que consegue reanimar. Esta exposição não é o ponto mais brilhante do filme. De fato, o comportamento é pouco razoável, menos num científico. Mas conhecemos a sua motivação. É preciso lembrar de novo Prometheus?Como previsível, Calvin foge da sua incubadora e oculta-se pela nave numa atitude nada amistosa. Os problemas crescem porque o bicho desenvolve-se, evolui e medra. Aliás, até mostra um comportamento inteligente. Portanto, os tripulantes devem lutar pela sua vida e por evitar que Calvin chegue à Terra, lá acima, no espaço. Onde ninguém te ouve gritar.Fixe. A sério que é difícil ver onde está o problema. Life entretém, tem ritmo, inquieta. As interpretações são bastante dignas, a destacar Jake Gyllenhaal e Rebecca Ferguson. Os efeitos especiais são bons e a ambientação está bastante conseguida. É pouco mais o que se pode pedir a um produto desfrutável. A originalidade talvez seja o ingrediente necessário para fazer o clássico que Life não é. Também não é preciso porque na mesma é um filme altamente recomendável.
- O melhor: É um filme muito entretido, com um efectivo desenvolvimento de personagens e um final dessassossegante.
- O pior: Com certeza, o incidente desencadeante.