Outra das séries que se aguardava com impaciência durante o 2017, depois duma “irregular” terceira temporada. Para sermos gentis.
E no ocaso do passado ano, tivemos a oportunidade de comprovar que, no mínimo, os capítulos mantêm certa linha de qualidade. O problema é que há poucas coisas destacáveis. Desde o esquisito critério próprio que considera “Be Right Back” e “The Entire History of You” como o melhor que já deu esta particular colecção de distopias; não existe equivalente nesta temporada, como também não havia na terceira. Percebe-se inspiração e atrevimento ideológico, continua a existir essa crítica pertinente sobre o impacto das novas tecnologias nas relações humanas. Mas há algo errado.
O episódio inicial é um bom exemplo. Sob essa esquisita homenagem a Star Treck, recriada num vídeo-jogo de realidade virtual, temos a exploração da monstruosa fantasia masculina de domínio sobre o entorno e sobre as mulheres, por parte dum personagem grisalho e medíocre. Óptimo. Acontece que todo parece pouco consistente com as próprias normas do universo da história.
Particularmente criticado por insosso, o episódio dirigido por Jodie Foster tem o pouco reconhecido mérito de ser o mais plausível; a permitir compreender todos os personagens envolvidos e a incluir umas interessantes reflexões sobre a violência e o controlo parental.
“Crocodile” foi outro capítulo acolhido com desagrado, também de modo injusto. A história mantém um certo suspense na volta do fatal encontro entre a pesquisadora de segurança com capacidade para espiar as memórias dos inquiridos e a antagonista, uma mulher que inicia um percurso criminoso para ocultar um obscuro segredo do seu passado. O único censurável seja talvez o meio pelo qual esta última é descoberta; meio que introduz um elemento de incredulidade que não ajuda aos méritos do enredo, que algum tem.
E com “Hang the DJ” chegamos ao “San Junípero” do ano. História intensamente romântica num mundo onde as relações estão pautadas e determinadas pelo “sistema”. Tudo corre bastante bem até que o prédio desaba por uma viragem final que questiona a totalidade do enredo e que parece totalmente inapropriada.
A gaveta dos episódios intranscendentes pode bem acolher “Metalhead”, uma história de supervivência num mundo pós-apocalíptico onde os humanos intentam fugir a um grupo de robôs caninos neste cruze entre Terminator e o reboot de Mad Max. Em si, não está mal, mas não tem a ver com o espírito geral da série.
E como falamos em críticas excessivamente severas com algum capítulo, deve-se contestar também os comentários laudatórios a respeito de “Black Museum”; um refrito de diversas histórias pouco interessantes, uma absoluta confusão narrativa com ar de auto-homenagem, e um final tão artificioso e barroco que não acaba por justificar a alta valorização obtém em sites de votação aficionada e profissional. Uma decepção.
A moral é a de sempre: todos somos uns pequenos monstros anónimos e a nossa monstruosidade é acentuada pela incorporação das novas tecnologias às nossas relações pessoais. O problema com Black Mirror é que parece que há melhores ideias no conceito do que histórias que as consigam encarnar de forma efectiva.