A pior personalidade de Shyamalan

Edwig, uma das “personalidades” que interpreta James McAvoy, diz numa das suas últimas intervenções: «Ninguém vai zombar de nós nunca mais». Oh James McAvoy, eu não estaria assim tão certo! Porque este despropósito chamado Split não se aproxima do limite do ridículo, ultrapassa-o generosamente. O qual, é uma lástima. O elenco e a premissa davam para algo mais.

Os primeiros minutos apresenta-nos uma curiosa festa de aniversário à que, apesar de não parecer muito a vontade, acode a jovem Casey (Anya Taylor-Joy, cuja curta carreira já viveu momentos mais felizes). Tudo cheira a backstory, e achamos bem. Não demora em ser sequestrada junto de duas colegas de liceu pequeno-burguesas e estúpidas. Ainda pensamos estar frente algo sério. Mas então começa o show do sequestrador: um McAvoy desencadeado que felizmente, de nada menos que 23 “personalidades”, apenas interpreta oito. Isso sim, esta particular conceção do Transtorno Dissociativo de Identidade concentra os momentos mais cómicos, e não está nada claro que essa comicidade seja propositada. Ao fim e ao cabo, este filme é rotulado como thriller ou de terror.

Os supostos do transtorno de Kevin são largamente explicados pela Doutora Fletcher (Fletcher? A sério?), e são tão absurdos que evitam toda suspensão da descrença. Imediatamente, divorciamo-nos duma trama artificial, redundante e carente de qualquer género de interesse. A ginja no bolo de todo este desleixo é um final que provoca a gargalhada, o ronquido ou ambos.
Mas não atiremos sobre os mensageiros. A negligência é responsabilidade dum guião que leva a assinatura do seu realizador, M. Night Shyamalan. Um Shyamalan que parece confortável a viver de glórias passadas, cada vez mais longínquas, talvez estimulado por uma misteriosa aprovação automática de crítica e público. O que a uns aborrece, a outros apetece. Resta ficar à espera de que alguém exponha os valores cinematográficos de Split.

  • O melhor: O cameo final, homenagem a um filme de Shyamalan que sim vale a pena.
  • O pior: Um guião absolutamente embaraçoso.

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