A cabana na floresta, junto do lago

A realização de filmes de terror é especialmente complexa no relativo a inspirar pavor no público, alvo principal e com frequência esquecido. Para além de conectar com os medos associados ao tempo histórico, é preciso o domínio duma série de elementos estéticos orientados a provocar o medo. E ainda assim, nem sempre estes recursos tácticos resultam efectivos.
Uma estratégia diferente é a retroacção da plateia para o tempo no que os filmes eram apavorantes de facto (ou no mínimo eram assim considerados): a infância. E a retroacção para a infância implica evocar temática ou estilisticamente as décadas de 1970 e 1980.
Existem bastantes casos recentes, alguns mencionados aqui. Desde a recuperação do thrilling all’italiana (Amer, Masks ou Berberian Sound Studio) até a realização de novos slashers animada pelos remakes de clássicos (Halloween, Friday the 13th ou Nightmare on Elm Street), passando por filmes claramente inspirados nas produções de 1980 (Stranger Things, Midnight Special ou It Follows).
No caso de Lake Nowhere, continua a linha marcada por The House of the Devil, o terceiro segmento de All Hallows’ Eve ou a escolhida pelo giallo Francesca. Quer dizer, não apenas desenvolve um sub-género próprio de tempos pretéritos, ademais imita a sua estética. E quando se fala em imitar a estética, fala-se stricto sensu: em Lake Nowhere reproduzem-se os ruídos visuais até próprios da filmagem em VHS (linhas horizontais atravessando a tela, breves cortes que sugerem gravações prévias da fita e distorções da imagem).Neste caso, temos um slasher híbrido entre Friday the 13th e, em menor medida, Evil Dead. E como slasher prototípico, não há surpresas: um grupo de jovens com ganas de diversão louca acodem a uma isolada cabana na floresta, ao lado dum lago. Esse lugar tem um escuro passado que é de algum modo revivido. Um dos jovens é possuído por um espírito e, para além disso, um assassino mascarado ao estilo Jason Voorhees emerge das águas e seguimos os seus passos desde os clássicos planos subjectivos no sub-género. O resto são perseguições, sexo, vísceras e um enredo disparatado.O carácter amador de Lake Nowhere não dá para enganar: é um produto realizado por amigos, familiar até. Resulta complicado não ser benevolente com um filme no qual se divertiram tanto a rodar. De facto consegue provocar alguma gargalhada, o qual põe em valor a sua dimensão de paródia. Lake Nowhere não passa duma brincadeira sem pretensões que não se toma demasiado a sério. E é assim que não dilatam o enredo mais de 51 minutos; dos quais, os sete primeiros estão dedicados a dois falsos trailers de cinema exploitation e a um falso comercial da cerveja White Wolf (marca que parece ser real).Os falsos trailers merecem uma menção especial porque até é uma lástima que sejam falsos. O primeiro é uma espécie de giallo argentiniano intitulado Quando il Fiume Scorre Rosso.O segundo, chamado Harvest Man, é uma sorte de eco-terror onde uma vertedura tóxica nas águas dum rio provoca um crescimento desmedido e a rebelião das plantas contra os humanos (como uma versão vegetal de The Food of the Gods).

  • O melhor: Os falsos trailers exploitation iniciais e a textura VHS.
  • O pior: É impossível contornar o carácter amador da produção.

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