2018 era isto

Não dá para ficar surpreendido.

Vamos caminho de concluir o primeiro mês do ano 2018 e ainda quedam 11 para resistir uma invasão nazi do espaço exterior, fazer a guerra contra as máquinas ou evitar uma catástrofe nuclear em Detroit…
Esses são alguns dos cenários previstos por filmes do passado ambientados num futuro que é já presente, ou vai caminho de ser. Como em 2017, os prognósticos não podem ser mais desalentadores: continuamos a viver no limite do Apocalipse.

Ben Richards ainda pode desfrutar deste ano.

Entre aquelas predições retro, não deixa de ser inquietante como algumas acertam com determinados elementos agora visíveis no panorama internacional: a globalização, a emergência da extrema-direita ou a crise económica são males identificados nestas profecias futuristas; talvez, em muitos casos, porque esses processos já estavam em marcha quando os tais filmes foram estreados.
Nesta lista, fica fora um clássico como The Running Man (1987), porque a maior parte dos acontecimentos descritos terão lugar no próximo ano. Fica para “O 2019 era isto”. De momento, Ben Richards (Arnold Schwarzenegger) continua em activo na polícia totalitária de Califórnia como piloto de helicóptero.

 

Baar Baar Dekho (2016)

O casal no natal futuro.

Sinopse: Jay e Diya conhecem-se desde putos e amam-se desde sempre. Infelizmente, as carreiras de ambos divergem: ela é uma importante pintora de quadros e ele um professor de matemáticas que espera um estágio em Cambridge enquanto lecciona aulas para as candidatas a miss Índia. Uma discussão nos dias prévios ao casamento, faz com que Jay explicite as suas prioridades laborais e despreze os rituais que envolvem o enlace. Como numa espécie de maldição, Jay será forçado a explorar a sua futura relação com Diya em sucessivos flash forwards.
Sobre o filme: É quase um tópico dizer que a produção indiana é tão prolífica como desconhecida em Ocidente. O realizador de boollywood Nitya Mehra, não obstante, parece ter como única longa-metragem este Baar Baar Dekho (alguma coisa do género “Olha outra vez”); algo que não convida precisamente a explorar a sua futura carreira. A história é outra versão piegas e açucarada do clássico Chrismas Carol, onde a discutível moral reside sempre na necessidade de sacrificar tudo pelo amor romântico.
Sobre o 2018: Não passaram nem dois anos da estreia, assim que pouca coisa. Jay dá um salto temporal e aparece neste ano em Cambridge, onde encontra a Diya grávida, pronta para o parto. Neva em Cambridge, o que não é frequente. Mas só até entrarem no hospital. Quando Jay sai do recinto pouco depois, exibe-se um fantástico dia primaveral… A magia do cinema!

 

Brick Mansions (2014)

Os protagonistas a partir aquela merda toda.

Sinopse: Num bairro de Detroit que sofre uma espécie de apartheid e onde não existe a autoridade pública, Lino (David Belle) luta para levar uma vida honrada contra os negócios do mafioso local Tremain (o cantante de rap RZA), quem acaba por sequestrar a sua namorada. Paralelamente, o agente infiltrado Damian Coller (Paul Walker) deve encontrar um arma nuclear em poder de Tremain, a quem aliás odeia por lhe atribuir a morte do pai. Dois homens de trajectórias muito diferentes (Lino e Coller) deverão colaborar para derrotar o vilão num bairro sem lei.
Sobre o filme: Produção francesa e remake de Banlieue 13, que faz homenagem póstuma a Paul Walker a base de chapadas, disparos, explosões, perseguições em carro e demais coisas maravilhosas. É como se fizessem uma adaptação cinematográfica do vídeo-jogo Double Dragon. O guião parece escrito por um puto de nove anos? Sim. Os estereótipos raciais e de género são qualquer coisa menos afortunados? Também. Contudo há um plot twist marxista-leninista no final que deixa todo o mundo louco por ser demencial e imprevisto. Para desfrutar sem exigências.
Sobre 2018: Detroit está na bancarrota, a corrupção e as bandas dominam a cidade. Basicamente, o Detroit dos nossos dias. O ponto de partida é parecido a Robocop, só que o clássico de Paul Verhoeven teve o mérito de profetizar isto em 1987; e não em 2014, quando a cidade já era o que é. A autoridade pública dá por perdido o bairro de Brick Mansions, assim que constrói um muro na sua volta; provavelmente inspirado na franja de Gaza. A câmara municipal tem um projecto de gentrificação à brava para esta zona, assim que precisa despejar os prédios de irmãos afro-americanos Estes dedicam-se fundamentalmente à criminalidade porque ainda não conhecem o pensamento de Mao Tsé-tung. Assim que a única possibilidade de sobrevivência ali é ter noções avançadas de karaté e de parkour.

 

Iron Sky (2012)

Os EUA de hoje.

Sinopse: A história começa com uma missão à lua. A parelha de astronautas descobrem no seu lado oculto uma colónia gigante de nazis, fugidos depois da vitória dos aliados em 1945. Os nazis matam um dos astronautas e prendem o outro, o afro-americano James Washington (Christopher Kirby). Este Reich lunar tinha prevista uma invasão da Terra em breve, mas temerosos de que o nosso planeta seja tecnologicamente mais avançado, decidem enviar uma expedição para contactar com a presidenta dos Estados Unidos de América.
Sobre o filme: Absoluta malandragem steampunk finlandesa. Dá a sensação que a mensagem política está muito por cima do elemento cómico, que é excessivamente infantil. Chega-se a sugerir um paralelismo entre o nazismo e a direita republicana estadunidense absolutamente delicioso. A paródia das relações internacionais não perdoa ninguém excepto Finlândia, claro. O realizador Timo Vuorensola fez duas sequências deste filme pendentes de estreia nalgum lugar. Uma das capas de Iron Sky 2 mostra-nos Hitler montado sobre um T-Rex, assim que só pode ser bom. A equipa trabalha actualmente num filme que se chamará Heidiland, com o que esperam inaugurar o género swissploitation. Boa sorte.
Sobre 2018: Sarah Palin, aquela gaja fascista do Tea Party, é a presidenta dos Estados Unidos de América. Quase acertam. Como estamos em ano eleitoral, envia um afro-americano à lua, para simular integração. No satélite, na cara oculta, levam 73 anos refugiados um importante grupo de nazis numa colónia com forma de suástica; com o seu governo, exército, sistema educativo e meios de propaganda. A sua tecnologia é rudimentar, mas dá para intentar conquistar a Terra. Também dá para “albinizar” as raças consideradas por eles como inferiores, graças a uma droga chamada “Aryanizer”. Na Terra, existem os hologramas 3D. As relações internacionais são tensas, e os países que não são os Estados Unidos de América têm desenvolvido em segredo o seu próprio arsenal nuclear. Sarah Palin, consegue endireitar uma campanha eleitoral desfavorável quando conhece o nazi lunar Adler (Götz Otto) e fica fascinada pela sua retórica fascista. Acontecem mais coisas, mas seria fazer spoiler. Finlândia é a nação mais sensata do planeta.

 

Terminator Salvation (2009)

Só com isto não se pode substituir Schwarzenegger.

Sinopse: Os humanos estão para dar batalha às máquinas depois do apocalíptico “Dia do Juízo Final”. O líder humano John Connor (Christian Bale) e um senhor chamado Marcus Whright (Sam Worthington) são os únicos sobreviventes dum ataque nuclear contra Skynet. Connor consegue uns planos desta inteligência artificial para desenvolver um tipo de andróide com tecido humano e para assassinar os líderes da espécie homo sapiens em 4 dias. O nome de Connor é o segundo por trás de Kyle Reese (porque sabemos pelo Terminator original que está destinado a ser o seu pai). Assim, Connor tem que desenvolver uma ofensiva rápida contra Skynet e encontrar (para proteger) o seu futuro/passado progenitor.
Sobre o filme: Desnecessário e prescindível alarde de efeitos digitais, autêntico lixo cinematográfico, bosta dourada de 200 milhões de dólares, embaraçosa e soporífera sequência… poderíamos continuar. Batalhas que se pretendem espectaculares e acabam causando sono por extensas. Aqui reservam até um breve cameo para o velho Arnold Schwarzenegger, que já não tem fôlego para estas acrobacias. A comparação com as duas primeiras entregas apenas pode causar uma sensação próxima à tristeza. Como sabemos (e pode-se consultar em “2017 era isto”) tudo fica em nada uma vez que 6 anos mais tarde, outra vergonhosa sequência decide alterar toda a linha temporal da saga. Bah.
Sobre 2018: Fundamentalmente, este ano está caracterizado pelo universo futurista de Terminator: tudo está estragado e existe uma hegemonia das máquinas sob comando de Skynet, quem tem dizimado a maior parte da população do planeta num grande ataque genocida. As máquinas parecem máquinas; mas estão a pensar que talvez seja mais produtivo, em termos bélicos, infiltrar máquinas com aparência humana. De facto, já têm alguma a correr por aí… Os humanos sobreviventes também estão militarizados por circunstâncias óbvias. Connor é apenas um líder, e não “o líder” que se supõe que deve ser. Os tabus familiares devem continuar a imperar, porque não se percebe como é que Connor não explica a Kyle o que deve fazer com Sarah Connor; uma vez que a supervivência desta, como o facto de que cheguem a ter um affaire, são necessários para o seu nascimento.

 

Rollerball (1975)

Um herói americano dos nossos dias.

Sinopse: Num mundo futuro, Jonathan E. (James Caan) é um jogador dum popular desporto bastante violento chamado Rollerball. É um desportista bem sucedido com a sua equipa Houston Energy; por isso, fica desconcertado quando o presidente da companhia proprietária oferece-lhe uma série de incentivos para abandonar a sua carreira. Jonathan decide ficar, sem ser consciente da função social do desporto como sustentador duma ideologia incompatível com o mérito individual.
Sobre o filme: O veterano Norman Jewison dirige uma curiosa proposta distópica, adaptada por Willian Harrison dum relato próprio. A acolhida na altura foi desigual. Não obstante, hoje tem um certo status de culto, talvez porque alguém teve a ideia de fazer um remake, sem conotações sócio-políticas, universalmente apupado. Pertence a esse género de fantasias futuristas onde o mundo está altamente avançado e desenvolvido, mas a custo de dissolver a liberdade individual. De facto, a história é uma afirmação petite bougeoise e tipicamente norte-americana do individuo, não tanto face o colectivismo da guerra fria, como em contraposição ao capital monopolista. James Caan está muito bem.
Sobre 2018: A sociedade está, em termos gerais, altamente pacificada. Os instintos agressivos são sublimados para um desporto hegemónico que não é o futebol. Trata-se do rollerball, uma curiosa e violenta mistura entre roller derby, basquetebol e futebol americano. A mecânica do assunto é parecida ao roller derby, só que o pivot pode ir em moto e o jammer anota pontos se introduz uma bola num furado. A bola deve estar visível em todo momento. Para além disso, há determinadas normas de penalização e substituição de jogadores que acabam sendo simplificadas durante o campeonato numa só: James Caan deve morrer. O motivo é que o desporto está controlado por um grupo de corporações multinacionais que possuem o governo efectivo do planeta, e querem transmitir a ideia de que destacar individualmente é feio. O bom é que, a diferença do futebol, a equipa de Madrid perde. Fora disso, a sociedade exibe traços altamente totalitários e na arquitectura predominam os espaços diáfanos de tonalidades brancas.

 

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