A coulrofobia tem sido uma importante fonte de inspiração para o terror contemporâneo. Não é estranho: os palhaços não deixam de ser gajos pintados e vestidos de forma extravagante, que agem de modo esquisito. Ignoro quem achou adequado como espectáculo infantil.
Entre a trapalhada, podem destacar-se nos últimos anos algum pequeno acerto de Rob Zombie (House of 1000 Corpses), algum desastre (31), a quarta temporada de American Horror Story ou o recente remake de It; baseado na novela de Stephen King e do que já falamos aqui. Contudo, e sob o meu ponto de vista, uma das mais apavorantes aparições de palhaços sinistros é a que acontece na curta de Damien Leone, Terrifier (2011). Esta curta é uma breve e cruel carta de amor pelo slasher da década de 1980, onde se erige um antagonista icónico; quem parece ter sido empregado anteriormente pelo mesmo realizador numa curta prévia, em aparência, sumida. O palhaço Art tinha um charme evidente. E assim achou Leone, quem o converteu no fio condutor do seu filme de antologia All Hallow’s Eve (2013); produto irregular onde destaca a curta-metragem Terrifier (reciclada aqui como segmento) e a narração que serve de base para a exposição das outras duas histórias que contém.
Três anos depois, em 2016, Leone passeia por diversos festivais a longa-metragem spin-off Terrifier; já disponível em plataformas digitais. Quem viu as entregas anteriores, não deve enganar-se: trata-se dum splatter sensacionalista cujo recurso central é precisamente a descrição explícita da vulnerabilidade anatómica humana. Os efeitos especiais, os quais já podiam ser melhores, estão ao serviço da representação de mutilações, esfaqueamentos e graves lesões oculares. Esta representação não é precisamente subtil.
Terrifier não tem pretensões: a racional e introvertida Tara (Jenna Kanell) dirige-se a casa com a sua louca amiga Dawn (Catherine Corcoran), depois de ter desfrutado duma festa de Halloween. No caminho cruzam-se com um mimo maníaco (David Howard Thornton) que mostra interesse em Tara. Eventualmente, o palhaço assedia as amigas com intenções homicidas. Durante a perseguição, aproveita para assassinar aquele que encontra no meio. Pronto. Não há mais nada, Não há mensagem, sub-texto ou qualquer coisa do género. Leone emprega os clichés para fazer um exercício de terror quimicamente puro.
O problema principal (e o filme tem vários) reside em que o palhaço Art, como antagonista, está muito por cima dum guião que resvala de modo estrepitoso justo quando pretende introduzir alguma viragem original. A história acaba tão mutilada como os seus personagens e adquire a aparência duma sucessão de segmentos inconexos, apenas ligados pela crueldade e o gore.
Não obstante, e para além do próprio palhaço, é preciso destacar o personagem de Jenna Kanell; quem protagoniza momentos de genuína tensão. Também um desenho de produção que vasculha propositadamente na década de 1980, com ecos ocasionais de Carpenter (a começar pela trilha sonora). Este revivalismo do slasher encerra-se nos títulos de crédito com uma homenagem aberta aos grandes que nos deixaram recentemente: Romero, Hopper e Craven.
Não passará à história.
- A favor: O vilão.
- Em contra: Acaba por ser reiterativa e pouco plausível.