XX

Nos últimos anos, assistimos à chegada de vários nomes de mulher à primeira linha do género de terror. Numa recente reportagem do diário The Guardian, a publicação britânica destacava, entre outras, Julia Ducornau (Raw), Karyn Kusama (The Invitation) ou Ana Lily Amirpour (A Girl Walks Home Alone at Night).
Este particular empoderamento resulta interessante, principalmente pelas constantes acusações de misoginia que recebe o género. Contudo, XX não é o melhor formato para explicitar esse hipotético olhar diferente sobre o terror. E não porque não seja um produto desfrutável.
De algum modo, XX contém os pecados habituais dos filmes de antologias: qualidade díspar das histórias e desconexão entre elas. Neste caso, fica a sensação de que o filme vai a menos. Também resulta complexo tirar um mínimo comum denominador entre os relatos, apenas ligados por breves entremezes sinistros em stop motion; uma maravilha a cargo de Sofía Carrillo e que remete ao trabalho de Jan Svankmajer.A primeira das secções (The Box) está dirigida por uma desconhecida Jovanka Vuckovic. Baseada num relato de Jack Ketchum é, com diferença, a melhor das histórias nesta antologia, a mais terrífica. The Box narra como Danny, um menino, solicita ver um estranho pacote que leva um desconhecido durante uma viagem de comboio. A partir desse momento Susan, a mãe de Danny, assiste à destruição da sua família quando um a um, todos os seus membros, vão conhecendo o contido da misteriosa caixa.O segundo segmento (The Birthday Party) é responsabilidade da cantante e música St. Vincent (nome artístico de Annie Clark). É o seu debute como realizadora, e é uma feliz estreia. Dum tom completamente diferente à história anterior, aqui vemos como Mary (Melanie Lynskey) intenta esconder o cadáver do seu marido antes do começo da festa de aniversário da sua filha Lucy. Anne Clark deixa aqui o terror de lado em favor do humor negro.O terceiro relato é talvez o mais fraco dos quatro. Esta realizado por Roxanne Benjamin, quem participara como produtora nas duas primeiras entregas de VHS, e como codiretora da antologia Southbound. O universo desta última está presente em Don’t Fall, onde um grupo de jovens descobrem umas pinturas rupestres no deserto. Estas gravuras representam um espírito maligno. O tal espírito toma posse duma das jovens transformando-a num monstro que mata um a um os seus amigos.O filme acaba com a curta de Karyn Kusama, louvada pela crítica talvez de modo exagerado. Her Only Living Son sugere ser uma sequela de Rosemary’s Baby. A mãe solteira Cora confronta o seu filho rebelde Andy e a misteriosa proteção geral que recebe de todo o seu entorno. Ao mesmo tempo, oculta-lhe a identidade do pai.
Em conjunto, XX entretém sem deixar uma grande impressão na audiência e, apesar de desinchar qualitativamente, todas as histórias mantêm um certo nível que não desaconselha o seu visionado.

  • O melhor: o trabalho de stop motion.
  • O pior: o terceiro segmento é um bocado pobre.

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