Um pouco de oxigénio para o neo-giallo

Entre a beleza e coisas que não sabes muito bem por que estão ali.

Ontem, no teatro principal de Compostela, pôde-se assistir ao último trabalho de Peter Strickland; uma curiosa mistura de thriller clássico, terror fantástico e comédia absurda.
De facto, em In Fabric, o interesse estilístico está muito por cima do narrativo. No primeiro há ecos de Sergio Martino, Dario Argento ou as obras mais elegantes de Fulci; com uma fotografia formosa, cheia de vermelhos intensos. Strickland já vasculhou anteriormente no giallo com títulos como Berberian Sound Studio ou The Duke of Burgundy.

O aspecto visual e sonoro é o que mais brilha no filme

O aspecto narrativo é certamente o mais fraco num guião que podia ter sido dirigido por Quentin Dupieux. Nele, Sheila (Marianne Jean-Baptiste), uma empregada de banca de mediana idade, divorciada e com um filho pouco colaborativo, procura o amor na páginas dum jornal de contactos. Para impressionar as suas citas, compra no saldo duns grandes armazéns um vestido vermelho que resulta estar maldito.

Estamos fundamentalmente face uma crítica ao capitalismo.

Esta é a base argumental dum filme que se estende durante quase duas horas graças a episódios de humor britânico. Por vezes, não do mais fino. Embora há que reconhecer ocasiões em que esta crítica do consumismo e do fetichismo da mercadoria, consegue arrancar gargalhadas sinceras: a esquisita namorada do filho de Sheila, os gerentes da banca que se excitam com os detalhes da reparação de lavadoras, as estúpidas normas de comportamento derivadas da cultura corporativa contemporânea, os consumidores arrasando com o centro comercial na temporada de saldos …

A segunda parte abandona-se totalmente à comédia.

In Fabric não foge do discurso crítico com o capitalismo; mas tende um refinamento formal quase histriónico; e a comicidade de muitas das suas cenas, vai em detrimento do terrífico da história.
A solidez interpretativa de Marianne Jean-Baptiste destaca no elenco. A trilha sonora giaollesca também é destacável. A sensualidade de determinadas cenas oscila entre o sugestivo e o vulgar. A montagem chega a resultar hipnótica.

  • A favor: Imagem e som.
  • Em contra: Premissa.

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