Sobre “Psiconautas”

 O dia 24 deste mês chega às salas de cinema do país Psiconautas, recentemente galardoado com o Goya a melhor filme de animação. O autor da banda desenhada na que está baseado e co-director da adaptação, o corunhês Alberto Vázquez, reivindicou no seu discurso a produção «na periferia».
Tivemos a oportunidade de assistir a uma projeção do filme no Festival de Cinema e Cultura do Fantástico “ToHorror”, em Turim. Lá não teve apenas uma excelente acolhida entre o público piamontês, como conseguiu o prémio à melhor longa-metragem. O júri considerou que o filme consegue «envolver a audiência através da força dos seus personagens, duma aventura num inesquecível mundo metafórico». Aliás acrescenta que Psiconautas «possui o potencial dum novo clássico».


A realidade é que os já tradicionais comentários laudatórios com os que se recebem as produções “espanholas” nos média ibéricos e que acostumam a ser abertas exagerações, serão justos neste caso; porque estamos face uma emotiva história de grande profundidade psicológica e social. A sua aparência de fábula animada não deve levar a confusão. Os desenhos de aspecto naive estabelecem um perfeito contraste dramático com a dureza do que se expõe.
E Psiconautas expõe um mundo devastado: uma ilha punida pelo desastre ecológico e a desestruturação social. Neste contexto de ausência de expectativas, a ratinha Dinkie pretende abandonar o controlo familiar e a paragem distópica em companhia das suas amigas; uma raposa ingénua e medonha e uma coelhinha esquizofrénica que ouve vozes perversas. Espera que o seu querido Birdboy se some à escapada, mas o menino-passaro está em plena crise pessoal. Perseguido pela polícia, dependente de drogas e com medo a voar; Birdboy mora isolado em constante briga com os seus demónios internos.


Não sabemos se é a origem corunhesa de Alberto Vázquez a que faz com que as paisagens do filme sejam plenamente reconhecíveis pela audiência galega ou o facto de tratar temas de grande complexidade e de categoria universal. Psiconautas acerta nesta viagem alegórica e sinistra, consegue gerar um impacto emocional num público que agradecerá este género de produções orgulhosamente periféricas.

  • O melhor: a complexidade e riqueza da história.
  • O pior: Pouca coisa. Talvez desejaríamos mais minutos para a coelhinha esquizofrénica, personagem absolutamente deliciosa.

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