Perspectivas enevoadas

Já estão disponíveis para o seu visionado os três primeiros capítulos da nova série de Dimension Films e Darkwoods Productions: The Mist (2017). Inspirada na novela homónima de Stephen King, é antes um reboot do que um remake da adaptação cinematográfica de 2007. Isto é, dentro do mesmo incidente, explora outras linhas narrativas.
E o incidente não é outro do que a chegada dum estranho nevoeiro à pequena vila de Bridgton, em Maine. Há algo no nevoeiro que mata aqueles a quem surpreende na rua. Tanto a novela como o filme centravam-se num grupo de pessoas cercadas num centro comercial pelo estranho fenómeno. A série adopta uma visão mais macroscópica repartindo o argumento entre diversos pontos da povoação e entre diversos personagens: um militar amnésico, uma criminosa, um polícia corrupto, uma professora questionada pela comunidade, a filha desta presumivelmente abusada pelo gajo popular do liceu, um padre, etc. Isso sim, partilha com as outras versões da história o componente conspiranóico que liga o nevoeiro com um esquisito projecto militar.

A narração antecipa que não toda ameaça se oculta no nevoeiro.

The Mist tem algo fundamental nas histórias de terror sobrenatural: a ameaça antagonista, no fundo, serve para descobrir a monstruosidade das pessoas. Assim, o colapso social em Bridgton que sucede à aparição do nevoeiro serve para que emerjam à superfície todas as misérias desse mosaico cidadão que se nos mostra. A misoginia, a homofobia, o abuso de poder e outros elementos mitigados pela diplomacia do quotidiano; irrompem sem qualquer limite já nesta perspectiva sombria da natureza humana.

Talvez um dos problemas é a rápida aparição do nevoeiro.

Em contra poderia-se assinalar o fato de que parece existir uma urgência em estabelecer a ameaça, o desejo da rápida aparição da névoa. Se calhar, teria sido melhor ocupar um par de capítulos em perfilar uns personagens que aparecem pouco definidos e com os quais custa empatizar. O maldito CGI que estragou a desassossegante versão de 2007 tampouco ajuda à série. Apesar de que esta parece não abusar tanto dos efeitos digitais e estes não sejam tão estridentes, têm o mesmo resultado no espectador que um meteorito de cartão pedra ou uns fios de pesca sobre qualquer OVNI.

Os personagens nesta ocasião são confrontados com os demónios internos.

A favor, poderia-se destacar a pequena variante que introduz a série sobre a ameaça oculta na névoa. Tanto no livro como no filme de Darabont esta ameaça eram umas criaturas monstruosas que se encontravam fora dos personagens. Neste caso, a ameaça tem um carácter mais introspectivo e natural ou telúrico: os personagens são confrontados com os seus traumas e fobias em cenas de puro pesadelo, algumas genuinamente terríficas. Não descarto que seja devido à minha catsaridafobia, mas achei a cena das baratas absolutamente apavorante.
Haverá que aguardar à evolução dos acontecimentos para comprovar cara onde se inclina o fiel da balança durante os sete capítulos restantes. Deveremos seguir na expectativa de que explore algumas das virtudes que ainda mal sugere.

  • O melhor: Tem cenas genuinamente apavorantes.
  • O pior: Personagens mal perfilados e um ponto de histrionismo nalgum momento.

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