Outra capa amarela

Infelizmente, Vanessa Paradis faz aqui de “final girl”.

Talvez um sintoma positivo de respeito pela diversidade estão a ser os recentes papeis principais reservados para personagens LGTBI, até não há muito, invisíveis no género.
Ultimamente, pudemos assistir vários exemplos disto com Assassination Nation, Feral ou o interessante What Keeps You Alive. Nesta linha, temos também Un couteau dans le coeur, onde Vanessa Paradis (perguntavam-se o que foi dela?) interpreta Anne, uma productura lésbica de cinema pornográfico gay que vê como aos poucos, os actores dos seus filmes aparecem mortos.
Yann González orienta esta premissa de thriller cara o neo-giallo, sub-género que se dava por morto. Un couteau dans le coeur e In Fabric vêm a revitalizar o assunto neste ano que acaba.

Típico antagonista mascarado e com luvas de coiro.

No caso do filme francês, advertem-se traços estilísticos e apologéticos de produções como L’uccello dalle piume di cristallo, Lo squartatore di New York, Deliria ou Lo strano vizio della Signora Wardh. Também de outras obras de marcada influência italiana; como o Blow Out de Brian de Palma, ou Cruising de William Friedkin, filme cujo enredo gira também por volta do ambiente gay.

A história acaba por fazer pouco relevante a identidade do assassino.

Em Paris no ano de 1979, e como se comentou anteriormente, Anne decide realizar um ambicioso filme depois de romper com a sua namorada Loïs (Kate Moran). As coisas começam a correr mal quando um a um, os actores do filme são assassinados por um misterioso homicida mascarado. Giallo puro e duro que, não obstante, viola um dos aspectos centrais do mesmo: o whodunit. Seja como for, recolhe outros como a espectacularidade dos crimes, a estética argentiniana ou o elemento traumático e sexual que serve como desencadeante deste massacre que parece ser uma alegoria da SIDA.

Vanessa Paradis não é um dos acertos deste filme.

No lado negativo, temos uma estrutura narrativa pouco interessante, uns diálogos pobres e uma interpretação desastrosa de Vanessa Paradis (por quê?). Como no caso do homenageado Argento (quem por certo, tem mais duma cena homofóbica), o elemento visual envolvente acaba por resgatar uma história que seria anódina, e mesmo ruim, noutras mãos menos ambiciosas no campo do estilo.

  • A favor: Estética do filme.
  • Em contra: a inexplicável conexão do assassino com as suas vítimas, uma vez que Anne desconhecia previamente a identidade deste.

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