Se alguém nesta altura ainda não assistiu Troll 2 (1990), deve saber que praticamente todas as suas cenas estão escritas com letra maiúscula na história do cinema: o espectro do avô, a cena do carro, a do quarto de Holly (Connie Young), a do «Oh! My gooooooood!» de Darren Ewing, a da dança absurda da miúda, a das pipocas, a surpresa final, qualquer uma onde apareçam os duendes ou Creedence Leonore Gielgud (Deborah Reed)…
Não por acaso Troll 2 é considerado como o melhor pior filme da história. E o matiz de melhor é relevante. A diferença de subprodutos como Buio Omega, He Knows You’re Alone, Mega Piranha ou Sororoty Babes in the Slimball Bowl-O-Rama (por destacar algumas infâmias de série B); o filme de Claudio Fragasso e ridícula e involuntariamente cómico. As suas sobre-actuações, incoerências argumentais ou diálogos acartonados nunca chateiam e até mesmo divertem.
Seja como for, parece inevitável fazer-se a pergunta depois de ter assistido: porquê? Talvez para explorar uma possível resposta, Michael Paul Stephenson, quem com 12 anos interpretara o odioso puto lamuriante Joshua Waits; dirige o documentário que leva por esclarecedor título Best Worst Movie.
O documentário recupera 19 anos depois o confuso e envergonhado elenco. Neste “O que foi de” vemos um dentista a sonhar com ser actor (George Hardy), um actor de teatro com desinteresse pelo sucesso (Robert Ormsby), uma actriz que oculta no seu curriculum a sua participação no filme (Connie Young), um grupo de anões perplexos pelo guião (os duendes), um homem mentalmente perturbado que participara sem demasiada consciência (Don Packard)… A maior parte deles acolhem com bivalência o recém adquirido status de culto por parte do filme. Constrangidos pelo carinho do público, intentam evitar o embaraço a rir com ele. Todos são envolvidos pela cálida homenagem dos fãs, com a excepção duma inquietante e errática Margo Prey (Diana Waits na história) afastada da interpretação pelo cuidado da sua mãe idosa, e provavelmente única membro do elenco a considerar Troll 2 como um produto de qualidade.
E nesta consideração acompanha Claudio Fragasso, responsável do engendro. O director italiano concentra todos os grandes momentos de Best Worst Movie. Defensor da seriedade do seu trabalho, os louvores recolhidos pelo mundo nerd inicialmente incham o seu ego. Escuda-se neles para atacar a crítica, quem tinha sido compreensivelmente pouco amável com Troll 2. Pouco a pouco, insere-se numa sorte de patetismo cómico-drámatico quando vai descobrindo que não há admiração sincera dos fãs e que deve lidar com a mordacidade dos próprios actores, entendendo de modo absolutamente errado que é esta quem desvaloriza o filme.
De maneira mais desportiva parece acolher estas contrariedades Rossella Drudi, guionista de Troll 2 e mulher do anterior. Com uma atitude significativamente mais positiva, até oferece uma explicação dos elementos que inspiraram a história. Todos aqueles achavam um sem-sentido o argumento, deverão fechar a boca quando descubram o sub-texto anti-vegetariano não intuído. Tomem lá, vão buscar.
Em definitiva, estamos face um documentário divertido e bastante amável que, apesar da percepção de Fragasso, rende uma homenagem em tom carinhoso a um filme que encerra a difícil virtude de carecer delas.
- O melhor: A confrontação do elenco com o director.
- O pior: Nada. É um filme verdadeiramente entretido.