No espaço ninguém pode ouvir-te bocejar

Como pré-sequência de Alien e sequência de Prometheus , Alien: Covenant tinha duas opções: aproximar-se da excelência ou da absoluta catástrofe. O trailer dava boas perspectivas. Mas é o que os trailers sempre fazem.E não dá para esperar que qualquer outro capítulo da saga iguale a terrífica e obscura Alien (1979) do mesmo Ridley Scott, ou essa maravilhosa continuação em chave de acção que dirigiu James Cameron sete anos depois. Mas era bastante necessário que se afastasse das restantes sequências, e muito especialmente de Prometheus. Chegava com que os personagens não fossem simples figurantes que se passeiam por planetas estranhos na espera da carnificina.

O melhor do filme acaba por ser o trailer.

E a tripulação da Covenant parece ter preocupações e motivações sensatas: o capitão sobre-vindo a quem lhe fica grande o cargo, menosprezado pelos subalternos e com absurdas convicções evangelizadoras (estamos em 2104), o andróide sintético que oculta algum sentimento humano (Michael Fassbender), ou o drama emocional da especialista em terraformação Daniels Branson (Katherine Waterston) depois de perder o seu namorado e ex-capitão da nave, um James Franco que felizmente morre rápido no incidente inicial. Esse incidente mata alguns membros da tripulação e provoca uma série de acontecimentos que levam à recepção dum sinal de origem humana desde um planeta próximo e desconhecido. Dado que o entorno desde o que se enviou a mensagem é apto para a vida e que a missão da nave é colonizar um outro longínquo planeta, a tripulação decide que não está disposta a esperar sete anos para chegar a destino, optando por desviar-se e provar sorte mais perto.

O primeiro acto ainda conserva certo suspense.

Desculpam-se os pequenos defeitos e os felizes acasos, bastante numerosos. Ainda acompanhamos o grupo numa exploração que mantém certo suspense. Mas é no desenvolvimento do enredo que se demonstra que Covenant fica no ponto meio entre Alien e Prometheus, com algum momento de interesse mas ainda demasiado frustrante. Este segundo acto começa com o pim-pam-pum da aparição da bicheza toda em outro alarde de cansativos efeitos digitais; para logo desembocar num soporífero diálogo metafísico-existencialista das barracas entre os sintéticos Fassbender e Fassbender, que não deixa de ser uma homenagem de saldo ao Blade Runner, também de Scott. Inclui-se uma embaraçosa explicação da origem dos xenomorfos a mostrar de modo claro que há mistérios que é melhor não desvelar.

A explicação da origem do xenomorfo é totalmente prescindível.

Depois de vagar sem rumo como uma nave auxiliar da Nostromo, a história parece recobrar certa cordura no desfecho. Voltamos aos corredores obscuros, às comportas automáticas, às luzes de alerta e à luta estratégica contra o xenomorfo nesse labirinto claustrofóbico e futurista onde nos apaixonamos da saga. Voltamos, em definitiva, a aquilo que nos prometia o trailer. Mas é demasiado tarde já para mudar a sensação de que o trailer é o melhor do filme. Se tínhamos alguma dúvida, uma inacreditável batalha climática com escotilha aberta acaba com qualquer engano.

O final aproxima-se levemente do Alien original.

Para concluir, um epílogo que se avista desde meia hora antes de que se produza, e que deixa uma sensação de indiferença cara as anunciadas sequências, onde Ridley Scott já disse que recuperaria os engenheiros. Para que?

  • O melhor: Michael Fassbender.
  • O pior: O flashback explicativo no segundo acto.

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