O presente ano cumprimentou-nos com a última entrega duma saga que não vai a lado nenhum e que não tem qualquer coisa a dizer.
Porque o verdadeiro paradoxo de The Cloverfield Paradox é o parentesco entre três filmes que nada têm a ver entre si. Por outro lado, é um paradoxo aparente. Trata-se do dinheiro de J.J. Abrams a intentar ligar a segunda e terceira sequência, ao sucesso do filme original.
Em Cloverfield (2008) temos um autêntico blockbuster limitado formalmente pelas características do found footage. Estas limitações referem-se a que este sub-género de filmes contornam ou ignoram o instinto humano da supervivência. Esse instinto que leva qualquer um a atirar a câmara e correr quando aparecem zumbis, um Big Foot ou, como é este caso, um grupo de extraterrestres gigantes. A curta satírica Hell No dá um bom exemplo deste comportamento lógico a criticar precisamente Cloverfield. Contudo, é inegável o carácter espectacular de muitas das suas sequências relativas à devastação da cidade de Nova Iorque.
Então, em 2016, levamos uma gratificante surpresa com uma sequência original, a melhor da saga, e que contou com a metade de orçamento do que o primeiro filme ou com três vezes menos que o seu sucessor. 10 Cloverfield Lane abandona o found footage e adentra-se no território do thriller psicológico. Uma narração que decorre maioritariamente numa única localização, apenas três personagens e o mistério que pesa sobre aquilo que acontece fora da casa-bunker na que se acham reclusos. O único a lamentar é um final fraco que existe apenas para ligar esta à entrega antecessora. Uma ligação que mata parte do mistério do enredo, o qual se deriva de um guião chamado The Cellar, sem relação com a saga. Para além do suspense 10 Cloverfield Lane tem, entre outros méritos, uma aceitável Mary Elizabeth Winstead e um extraordinário John Goodman.
E chega 2018 com o seu The Cloverfield Paradox. Como no filme prévio, o guião foi escrito à margem da saga. Só que a diferença de aquele, este guião é um absoluto desastre ilógico e estúpido. Nesta vez, estamos face uma ópera espacial sem sentido que parte duma iminente guerra mundial pelo esgotamento dos recursos energéticos. A esperança é um experimento no espaço tipo CERN que proverá a Terra de energia ilimitada. Mas claro, sai mal e acontecem coisas sem demasiada explicação. Para além da protagonista, a tripulação da nave é um festival de estereótipos: um heróico norte-americano, um irlandês brincalhão, um alemão sério e suspeito, um russo agressivo e hostil, uma japonesa esperta em questões tecnológicas, um brasileiro religioso… uma grande bosta. A relação com os monstros de Cloverfield é tão vaga como todo o que a acontece na metragem: braços amputados que se mexem sozinhos, feridas que não sangram, universos paralelos e qualquer outra loucura cuja responsabilidade devia ser punida. Não faltam recursos a The Cloverfield Paradox, simplesmente estão investidos em fogos de artifício. Uma absoluta perda de tempo.
- A favor: Nada.
- Em contra: Tudo.