Hype ou não hype?

Com este vilão, a coisa prometia.

Hype, claramente.
E não é que It (2017) seja uma absoluta palhaçada. Nada disso. É que leva à conclusão tópica de que o livro no que está baseado, é muito melhor. Necessariamente é assim: o extenso romance de Stephen King é uma aterradora história de grande complexidade, principalmente no desenlace das duas partes que a compõem. Trasladar isso à tela tem uma certa dose de temeridade. Tommy Lee Wallace intentou em 1990, com resultado modesto. É impossível não sentir algo de carinho pela primeira adaptação. Mas envelheceu bastante mal. O seu ar de tele-filme não desaconselhava uma revisão moderna.

Cena extremamente cruel que abre a história.

Dá a sensação de que essa revisão deveria ter sido feita em formato de série. Mas para isso já temos Stranger Things. E a adaptação de Andrés Muschietti é basicamente isso: um capítulo de Stranger Things que não sabe demasiado bem cara aonde vai, nem quando deve acabar. É uma difícil mistura entre Stand by Me (outra adaptação de King) e A Nightmare on Elm Street. (explícita e conscientemente homenageado de determinada altura da metragem). Seja como for, é complexo não ver as críticas laudatórias como parte duma conseguida promoção da fita.
Para quem não conhecer o livro e a adaptação de 1990, uma sinopse poderia resumir história assim: numa vila norte-americana chamada Derry acontecem misteriosas desaparições de meninos. Um grupinho de losers que acaba de ingressar na puberdade dispõem-se a passar juntos o verão de 1989. Mas são confrontados com os seus medos por um sinistro palhaço chamado Pennywise (Bill Skarsgård), quem ademais é responsável pelos infanticídios da zona.

O tratamento da adolescência é fresco; e as interpretações, razoáveis.

Este novo It funciona quando age como uma produção de aventuras adolescente, de ar retro; onde se trata o valor da amizade, a inadaptação, o despertar sexual, o desamor, a lida com a morte e outras dores de cabeça que fazem parte de virar adulto. As interpretações dos miúdos são razoavelmente boas, a destacar Sophia Lillis, Jack Dylan Grazer ou Finn Wolfhard. Os diálogos, borrifados de brincadeiras ruins e obscenas, fornecem credibilidade aos personagens.
Relativamente à obscenidade, existem passagens do livro que são impossíveis de recriar na tela sem uma denúncia do ministério público. O guião substitui-os de modo aceitável, sem retirar certa carga sexual entre os amigos em relação à personagem de Berberly Marsh (Sophia Lillis). Em conjunto, está rodado com certo gosto e acompanhada por uma trilha sonora orquestral que acentua o carácter de fantasia gótica do filme.

Mais do que no terror, “It” funciona quando age como filme de aventuras.

No aspecto negativo está o terror. Ou, de modo mais específico, a ausência deste. It abusa dos jumps scares e das subidas repentinas de volumem. E Bill Skarsgård, como palhaço diabólico, nunca consegue fazer-nos esquecer a interpretação de Tim Curry há 27 anos. A quantidade de informação que se pretende condensar nos longos 135 minutos de duração faz com que o filme tenha um problema de ritmo e no final deixe a sensação de ser apenas uma sucessão de sketchs macabros. É preciso aqui fazer uma excepção com a cena da morte do miúdo Georgie (Jackson Robert Scott), a qual está tratada com uma crueldade infrequente no género.
Na expectativa de que a conclusão geral da história melhore a sua visão de conjunto, deveremos assistir a segunda parte anunciada já para o ano próximo, e aonde os responsáveis relegaram a história “adulta” do grupo dos perdedores.

  • O positivo: A surpreendente cena do encontro entre Georgie e Pennywise.
  • O negativo: O abuso dos jumps scares e o problema do ritmo.

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