É a vida tudo, e a morte nada? Ou nada a vida, e a morte tudo? São as grandes perguntas da existência que a estranha figura de Zé do Caixão nos formula apontando-nos com as suas unhas, cartola encasquetada e capa estendida. O único certo é a imortalidade do sangue. Qual alma, qual quê?
Com motivo da morte, em 19 de Fevereiro, do realizador brasileiro José Mojica Marins, repassamos os caminhos que levam desde a infância no bairro operário de Vila Anastácio, até o sucesso nas bilheteiras, a início da ditadura militar, com os blasfemos À Meia Noite Levarei Sua Alma (1963) e Esta noite encarnarei o teu cadáver (1967). Para além do terror clássico, do expressionismo, do surrealismo, do niilismo ou das suas raízes brasileiras; fazemos notar que a primeira entrega é coetânea do nascimento do gore (Blood Feast) e dos filmes roughies (Scum of the Earth!, Lorna); e que ambos são uma espécie de rape & revenge sobrenatural avant la lettre.
Acompanhamo-lo na sua descida aos infernos do alcoolismo e a pornochanchada, lamentando o que O Despertar da Besta pôde ter suposto para a sua carreira e finalmente não significou. Assim que nos vemos forçados a falar do seu empreendedorismo religioso, da sua breve carreira política e (ainda pior!) de 24 Horas de Sexo Ardente e 48 Horas de Sexo Alucinante. Dentro do cinema exploitation brasileiro, faz-se alguma breve menção a alguma outra fita, como A Reencarnação do Sexo (Luiz Castellini, 1982).
Mas depois de fazer figuras tristes, esta história tem um final feliz: Zé do Caixão (aka. Coffin Joe) é descoberto no estrangeiro e redescoberto no Brasil; de modo, que é capaz de encerrar a trilogia com a longamente esperada Encarnação do Demônio (2008). Há que reconhecer que não foi o momento mais elevado da história do cinema, mas algumas cenas com animalinhos mexeram nos experimentados estômagos de Pineda e Churi.
Acabamos sobrevoando as antologias (The Profane Exhibit, As Fábulas Negras), as Memórias da Boca ou Coffin Joe Born Again, filme experimental inacabado que ia ser composto com descartes das velhas obras de Zé do Caixão. Despedimo-nos de Mojica Marins e retomamos o funcionamento regular do podcast com a proposta de Churi para a próxima semana: Coherence (2013).
Recomendações
In The Tall Grass (2019)
Garth Marenghi’s Darkplace (série, 2004)
Swallow (2019)
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