Destinado ao esquecimento.

Resulta-me familiar…

O 2017 deixou órfãos todos aqueles que gostamos do neo-giallo. E já vão alguns anos que o sub-género não nos deixa alguma peça de interesse.
Os pais da criatura, Hélène Cattet e Bruno Forzani, optaram esta vez pelo western contemporâneo em Laissez bronzer les cadavres!, elogiado de modo entusiasta aqui. Os irmãos argentinos Luciano e Nicolás Onetti escolheram o slasher com o seu Los Olvidados, que será estreado internacionalmente sob o título What the Waters Left Behind. Pudemos assistir na secção de Sitges Midnight X-treme, junto de Game of Death, Secret Santa, Double Date e algumas curtas. Não se pode dizer que fosse a projecção mais afortunada.

Uma boa localização necessária, mas não suficiente.

Os irmãos Onetti foram responsáveis pelo giallo experimental Sonno Profondo (2013), uma proposta original e arriscada que chamou a atenção da crítica na altura. Também por Francesca (2015), um filme mais ortodoxo, mais fiel aos elementos do género; e que foi recomendado também em Mal de Olho. Neste desvio, Los Olvidados mostra abertamente de que fontes bebe. Craven, Zombie, Aja… Uma especialmente evidente é The Texas Chainsaw Massacre. Los Olvidados é, em essência, uma versão vernácula do filme de Hooper; também sufocante e suja.
Começaremos pelo seu grande mérito: a localização. Epecuén mostra uma paisagem catastrófica, que transmite uma franca sensação de isolamento e se traduz num tom e uma fotografia certamente formosa. Aliás, remete a uma terrível tragédia real que ignorava, presente na fita com imagens de arquivo durante os títulos de crédito: umas obras de canalização entre rios iniciadas em 1975, seriam abandonadas durante a ditadura militar; ficando a vila protegida por um dique de contenção que cederia em 1985. Epecuén seria completamente inundado e os seus moradores evacuados da zona.

Jovens inconscientes: também há na Argentina.

No terreno da ficção e na actualidade, um grupo de jovens “bonitos” e portenhos dirige-se para as ruínas da vila com a intenção de filmar um documentário sobre o assunto. Levam consigo uma nativa cujas memórias esperam que sirvam de fio argumental para a história que pretendem narrar. Como é de prever, ignoram todos os sinais de perigo e as normas mais básicas da sensatez; pelo que acabam por cruzar-se com uma espécie de família Manson bonaerense.

Red-necks serial killers da província de Buenos Aires.

E acabamos com o pior do assunto: Los Olvidados não introduz nenhum giro criativo, não acrescenta nenhum ingrediente interessante à clássica receita do slasher. Os personagens carecem de matizes e envolvem-se nuns diálogos e numas situações que embaraçam. Em certa altura da metragem, a história galanteia com os piores vícios do torture porn; numa fase que se pretende perturbadora, mas que acaba por ser chata pela ausência de empatia que acordam os protagonistas. Tudo fica anegado pela sensação de ser um filme visto mil vezes e, portanto, rapidamente esquecível.
Fica a suspeita de que o cenário escolhido era capaz de permitir a exploração subliminal de problemas históricos relativos a Argentina, que concedessem uma maior relevância social à obra. O descuido da importância do guião faz desta um outro slasher indistinguível de centos dos seus congéneres.

  • A favor: A localização.
  • Em contra: O guião.

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