Acabemos com a pós-modernidade já

Luzecitas, planos cuidados, slow-motion e basta.

Nesta época, não é ilógico que qualquer presunção venha acompanhada do carinho da velha crítica bichada de monóculo, cachimbo e afectação. Ao fim e ao cabo, estamos nos dias do pós-terror e ainda não se vê a saída no final do túnel.
É assim que Nicolas Cage recolhe louvores na sua participação em Mandy, pós-modernalhada de Panos Cosmatos; quem já mostrou ao mundo do que é capaz com a insofrível Beyond the Black Rainbow (2010).

É capaz de dirigir o Benfica, o Sporting e encabeçar um culto messiânico.

O produto segue a esteira de outros nomes contemporâneos, como pode ser Nicolas Winding Refn, só que o anterior ainda conseguiu exprimir algum comentário social e sobressaltar nalgum momento no seu The Neon Demon (2016), particularmente no seu clímax. Mandy apenas é uma sucessão de non-sequiturs, planos belos, iluminação não diegética e diálogos pretensamente elevados, proferidos por personagens carentes de qualquer profundidade a habitar um mundo sem contexto nem importância.

Que demónios…

Se vasculharmos entre toda a porcaria lisérgica de saldo, podemos enxergar em Mandy uma simples história de vingança: Red (Cage) mora numa cabana na floresta com a enigmática Mandy (Andrea Riseborough), onde compartem o seu amor com silêncios e rostos sérios. Ambos têm o infortúnio de não ficar distantes dum culto messiânico dirigido por um líder carismático com nulo carisma: Jeremiah (Linus Roache), quem parece um duplo neurótico de Jorge Jesús. Jeremiah quer Mandy como concubina assim que -claro- contrata os serviços duma banda de motoristas fantasmas para raptar a mulher. Não parece precisar deles para assassina-la, deixando um mal-ferido Red com ânsias de vendeta. No seu percurso vingativo, o protagonista deixa cenas de embaraço interpretativo e mortes espectacularmente ridículas.

Sim, Nicolas Cage põe a sua cara de louco aqui também.

A sério: no terror contemporâneo, chamado de pós-terror, há coisas certamente salváveis. Mas o pessoal deveria ter o critério suficiente para distinguir uma obra legitimamente elevada duma evidente pegada no pé do público. E dirão o contrário, mas aqui Nicolas Cage não se redime de nada.

  • A favor: Nicolas Cage põe a sua cara de louco até em duas ocasiões.
  • Em contra: Fundamentalmente, o guião.

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