A sombra de Cronenberg é afiada

Helen e a sua gémea.

Se não houver nada melhor a fazer uma tarde, será possível desfrutar de Let Her Out; fita que se inscreve na tradição canadense do terror corporal. Mas isso será se não houver nada melhor a fazer.
Em Let Her Out, veremos o paralelo deterioro físico e psicológico da jovem Helen (Alanna LeVierge); quem, depois dum acidente viário e a conseguinte convalescença, começa a ter estranhas visões e perdas de consciência. A origem destas perturbações é um corpo estranho no seu cérebro, que acaba por ser uma irmã gémea fagocitada durante a gestação. Na espera da cirurgia que extirpará esta gémea do seu crânio, Helen percebe que a sua irmã não-nata possui uma identidade perversa que visa colonizar o seu corpo. Durante os seus períodos de inconsciência, é a gémea malvada quem toma posse de Helen para fazer não se sabe muito bem o quê.

Durante todo o tempo, temos a dúvida de se o problema é físico ou mental.

Naturalmente, Let Her Out joga com a ambiguidade de não mostrar, durante boa parte da metragem, se as suspeitas de Helen são reais, ou são produtos da loucura que também afectava a sua defunta e suicida mãe. É esta dúvida a que mantém alguma dose de tensão no filme.
O problema é um guião pouco adequado: nunca chegamos a importar-nos realmente com nenhum dos personagens que intervêm no desenvolvimento; o que faz com que o filme avance devagar, principalmente no seu primeiro terço. A partir do equador da história, acelera-se o ritmo a base de jumps scares, cenas gore (nada do outro mundo) e saltos adiante no tempo (a jogar com os problemas de consciência da protagonista). Está uma repulsiva cena de exploração corporal que é puro Cronenberg. Também a cena do metro (oportunamente vazio e desatendido) que compensa bastantes minutos de rigorosamente nada. O desenlace, ainda mal resolvido, consegue manter um nível arrepiante que se agradece. Mas em conjunto, é inevitável concluir com uma sensação agridoce.

A batalha de Helen contra si própria / a sua gémea, não passa dum aprovado justo.

Essa mesma sensação é provocada por uma fotografia que alterna interessantes momentos que remetem a Bava ou Argento; e outros nos que o filme adquire um desnecessário tom de videoclip, com slow motions e outras bobagens. Incluso durante alguma altura sugere-se um discurso de género que acaba por ser outro ponto no ar, entre vários que existem na trama.
O orçamento limitado da produção nunca chega a ser um problema e, globalmente, consegue-se transmitir a impressão de assistir a algo mais caro. Mas não se consegue ultrapassar o aprovado justo.

  • A favor: A cena do metro.
  • Em contra: O guião.

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